O FALCO visitou El Haouaria
Uma vila intimamente conectada com o meio natural. O gado bovino e ovino, os cães de guarda e caça e os galináceos espalham-se pelos campos circundantes desta povoação e cruzam-se, inclusivamente, com o meio urbanizado. O mar, que circunda toda a região, tem também uma presença marcante que se espelha na gastronomia local. Tudo isto se reflete num interesse intrínseco pelo natural e biológico dos “produtos da terra”.
Entre as várias ligações ao meio ambiente, destaca-se o forte interesse pela falcoaria, herdada de gerações passadas, desde tempos dificilmente traçáveis, e prendendo-se em boa parte com a localização geográfica desta vila. Situada no Cape Bon, assume um posição central e privilegiada numa das rotas de migração de aves de presa, vindas de Norte (Europa) para sul (África) e vice versa. Esta ligação à arte cetreira denota-se até na sociabilidade dos habitantes desta vila. Os cerca de 400 praticantes que habitam nesta região reúnem-se regularmente num dos 4 cafés de falcoeiros, especialmente destinados a estes encontros.
O FALCO foi ao encontro deste local, com o intuito de perceber de que forma estas pessoas se relacionam com as aves de presa e quais são os reflexos que podemos ainda observar da prática milenar da falcoaria, cujos preceitos são mantidos pela transmissão oral de geração em geração.
Entre os dias 4 e 7 de junho conhecemos o património material e imaterial que identifica a localidade e as pessoas que o guardam e mantêm vivo. No decurso das diversas visitas a espaços históricos e patrimoniais visitámos as instalações onde se encontra a sede da l’Association du Festival de l’Epervier d’El Haouaria na companhia de Saoussen Bou Aicha, Ben Hmida Mohamed Ali, Samy Elkar, Afifa Jerbi.
Neste contexto tivemos oportunidade de reunir com o presidente da referida associação, Marnissi Habib, e também com a representante da Delegação administrativa de El Haouaria. Entrevistámos o mestre falcoeiro Hichem Ben Hmida – profundo conhecedor das práticas cetreiras da região – que nos recebeu na sua casa e nos mostrou as suas aves de presa, as práticas quotidianas relacionadas com o seu cuidado, os aparelhamentos e as técnicas tradicionais locais de falcoaria.
Ao longo dos 4 dias que permanecemos em El Haouaria, recolhemos conhecimentos da tradição falcoeira local e objetos que lhe estão afetos, documentámos práticas e conhecemos de perto as pessoas que mantêm viva esta relação Homem-animal, de contornos únicos. Essa informação, de importância vital para a compreensão e estudo da história animal, será agora tratada e partilhada no decurso dos próximos meses.
Afonso Soares de Sousa (IEM/NOVA-FCSH)